As primeiras 12 semanas desta temporada foram simplesmente históricas. Enquanto grande parte da Amazônia enfrentou níveis de água excepcionalmente altos que nunca baixaram de fato, o Rio Marié mais uma vez provou por que é a pescaria mais avançada de tucunarés-açu gigantes do planeta. Níveis estáveis, água clara e peixes altamente responsivos criaram o cenário perfeito para uma pesca com mosca técnica na selva, e os pescadores viveram um dos períodos mais produtivos que já registramos.
Mas nada disso aconteceu por acaso.
Esses resultados são consequência direta de mais de uma década de preservação rigorosa e acesso controlado. Desde 2014, o rio é protegido por meio de uma parceria de longo prazo com as comunidades indígenas, permitindo manter uma biomassa intacta de predadores de topo. Dez anos de monitoramento científico, políticas de captura e soltura e pressão de pesca cuidadosamente gerenciada permitiram que esses peixes atingissem todo o seu potencial genético.
Os números contam a história: até o final da semana 12, nada menos que 168 peixes acima de 80 cm foram capturados, além de um recorde de 13 peixes acima de 90 cm — mais do que qualquer temporada registrada em toda a Amazônia. Entre esses gigantes, dois se destacaram: dois enormes tucunarés de 92 cm e 26 libras, um raro “double” que divide a posição de maior peixe da temporada até agora.
Nosso programa de guiagem evoluiu da mesma forma. A cada ano, nossa equipe aprofunda seu entendimento da hidrologia do Marié, do comportamento dos peixes, dos micro-movimentos migratórios e das sutilezas da pesca de visual em estruturas complexas da selva. De interpretar mudanças de turbidez a ler barrancos, praias e fundos duros submersos, nossos guias alcançaram um nível de precisão técnica que só uma década de dedicação pode proporcionar.
E esta temporada marcou um marco especial. Dois guias indígenas foram oficialmente integrados ao time de guias profissionais — uma conquista histórica que reflete anos de aprendizado conjunto, treinamento intenso e a combinação perfeita entre conhecimento ancestral e metodologia moderna de pesca com mosca. A capacidade deles de ler a água e antecipar o comportamento dos peixes é excepcional, e seu crescimento representa exatamente o propósito deste projeto.
Preservação, expertise e evolução — essa é a base do Marié. Cada gigante capturado é o resultado visível de anos de proteção e disciplina, construídos em colaboração com as comunidades que chamam este rio de lar.
Este é o Rio Marié. E é por isso que ele permanece incomparável no mundo da pesca com mosca na selva.
Rodrigo Salles e Rafael Marques
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